Você já se sentiu em um loop do qual não conseguiu sair?
Não sei mais como lidar com isso.
-Semana que vem vai dar certo. Segunda, não é?
-Não, mas para fazer isso eu preciso terminar aquilo.
-E aquela dieta? Vai dar certo?
-Só consigo treinar quando chegar em casa, mas já chego tão cansado... Semana que vem eu começo. Semana que vem sem falta.
E a surpresa? Nenhuma! Você já deve saber o resultado. Já me perguntei o motivo da sabotagem. Já pensei até o fato de que pode ser um mecanismo de recompensa interno.
-Ora, a vida já é tão fodida, porque não aproveitar enquanto podemos? – é o que meu cérebro diria se ele falasse, talvez.
Mas sabe qual o abalo? A verdade é que talvez eu não consiga definir uma meta pelo simples fato de não ver sentido em metas. De não achar que valha a pena. De não ter razão nem o porque. E de outras questões existenciais que vão muito além de uma automação de um processo inventado para alimentar um sistema inventado.
Faz parecer que eu vivo descolado dessa realidade. Como se me visse do lado de fora de uma vitrine. Observando o manequim – eu. E para falar a verdade não sei se me jogaram para fora dessa loja, ou se andei pela porta por vontade própria. Sem chave e sem maçaneta.
São forças de todas as vertentes contra a minha caminhada. Mas o cerne da minha questão é:
-Pra que essa caminhada?
-Porque eu só me sinto bem se me sentir bonito e desejado?
-Porque eu tenho que alimentar esse sistema que me destrói? Que remove a minha identidade dia após dia?
-Porque ser eu mesmo é uma inconveniência para quem me cerca?
-Porque nós seres humanos não podemos viver bem sem nossas manias e apegos?
-Porque eu, mesmo rejeitando tudo isso, me sinto bem em seguir dentro de uma bolha ao mesmo tempo que me sinto mau por estar nela?
Ser quem eu sou não é facil. Os degraus, o caminho, a montanha estão ali para serem superados. Viver é o inferno.
“O inferno são os outros.”
É claro que cada um vive seu inferno particular. Mas sobre a dor de ser quem eu sou, só eu sei, soube e saberei.
O que posso fazer, por hora é viver um dia de cada vez.
Aceitar meus erros. Tropeçar e cair. Pra que no final dessa caminhada sem sentido, eu possa olhar para os meus joelhos e quem sabe, para cima, e ver que a caminhada não foi em vão.
